Resumo
O trabalho apresentado neste artigo é parte da pesquisa desenvolvida com a orientação do Dr. Paddy Ladd na Universidade de Bristol (2009)4. Este estudo, em particular, investigou a natureza do éthos das comunidades surdas gaúchas em relação à educação de surdos por meio da comparação com o éthos de comunidades indígenas Guarani do sul do Brasil entre os anos 2003 e 2006. Francielle Martins e Antonielle Martins, ainda bem jovens, trabalharam como auxiliares de pesquisa. As jovens pesquisadoras participaram tanto das transcrições e da análise de dados em Bristol e no Rio Grande do Sul. Trabalhamos com um grupo de doze profissionais surdos do Rio Grande do Sul. Todos os informantes eram educadores, professores licenciados e quatro deles também eram pesquisadores. Neste artigo, utilizamos nomes fictícios ao relatar suas narrativas por razões de sigilo de pesquisa. Este trabalho consistiu em examinar as práticas de ensino e posicionamentos do grupo à luz de uma revisão bibliográfica sobre pedagogias culturais indígenas. Fazemos referência a esses professores como ‘educadores’ surdos pois este é o termo que eles próprios utilizam para nomear sua prática e seu trabalho como líderes nas comunidades,
haja vista sua compreensão crítica e pedagógica tanto do termo em si como do seu papel (FREIRE, 1982b). Junto às comunidades surdas, adotamos a
etnografia crítica como metodologia. Fizemos observações de campo com pessoas surdas e realizamos entrevistas. Reunimos informações da literatura
sobre povos indígenas para fazer essa primeira comparação entre os dois grupos alvos do estudo – comunidades surdas e indígenas. Os resultados do
estudo sustentam a premissa de que as pedagogias surdas são efetivamente pedagogias culturais e compartilham aspectos comuns com as pedagogias
indígenas. O trabalho também inclui reflexões sobre as implicações metodológicas da pesquisa intercultural. A pesquisa em estudos surdos voltada
para a associação entre cultura e educação ainda é bastante recente, mesmo para os dias atuais. Este estudo preliminar, concluído ainda em 2009, indicou
que havia uma grande necessidade de novas pesquisas com as comunidades surdas e pessoas surdas que trabalham na educação de surdos, a fim de que possamos aumentar nossa compreensão das epistemologias e práticas pedagógicas surdas. Esta necessidade ainda existe ao final de 2021 e precisa em especial de uma revisão no que tange a novas produções e epistemologias que possam ter nascido como resultado da situação de digitalização do ensino e dos efeitos também do isolamento causado pela pandemia nos anos de 2020 e 2021, principalmente. As pedagogias surdas precisam ser reconhecidas, alorizadas e respaldadas se quisermos preservar as línguas de sinais e as culturas surdas. Promover pedagogias surdas e abordagens voltadas aos surdos em espaços de aprendizagem surdos é vital para a qualidade de vida das comunidades surdas e para uma bem-sucedida integração social, cultural e profissional dos surdos tanto no mundo ouvinte quanto no mundo surdo.
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