A Surdez Como Posse, Como Não Deficiência

Resumo

A surdez – considerada uma deficiência: falta ou limitação – é, para nós, não uma falta ou limitação, mas posse: o surdo possui ausência de audição. Sendo, assim, o surdo é enxergado, por nós, não como deficiente, mas como o outro, o diferente. E o outro, o diferente é, na maioria das vezes, percebido como aquele que é exterior a nós: o nós-eu4: o estranho, o diferente. Ao tentarmos enxergar o surdo como não deficiente – aquele que não possui o sentido de audição - vemo-lo como aquele que possui algo que não possuímos. Por isso, diferente. Não diferente no sentido de negação, mas no sentido ontológico do ser: alguém possuidor de possibilidades diversas a nós. E isto é motivo de orgulho, orgulho de o surdo perceber que é possuidor. Ser visto como outro-diferente, porém visto, percebido, ouvido com ética. Ao fundamentarmo-nos em Hellen Keller, surda-cega; Leland Emerson McClerary e Enrique Dussel, que nos propõem sair do nós-eu, apostando na exterioridade para possibilitar um diálogo ético com o outro, poderemos perceber que, como afirma o filósofo argentino, “(...) o Outro (autrui) é a fonte inicial de qualquer discurso essencialmente ético (...)”. Aqui olharemos o surdo não como o estranho a nós eu pseudo normais mas como o outro, o diferente não negado como ser, mas como pessoa que é e, portanto, possuidor daquilo que não possuímos: a ausência da audição. Poderemos perceber que o diálogo é possível, necessário para que nós-eu possamos ouvir – e ouvir palavras ditas com as mãos – palavras que, de modo algum, são inferiores às palavras faladas, vocalizadas.

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