Abstract
A preocupação sobre o ensino da Língua Portuguesa para surdos permeou a história com diferentes interfaces e concepções. Como uma forma de apresentar proposições sobre o tema, esta pesquisa tem como objetivo geral descrever e analisar as práticas pedagógicas bilíngues utilizadas para ensinar Língua Portuguesa para surdos, em turmas bilíngues inclusivas, no 6º ano do ensino fundamental II, nas escolas-polo bilíngues do Rio de Janeiro e de Duque de Caxias. Os objetivos específicos são: demonstrar práticas pedagógicas bilíngues de ensino de Língua Portuguesa para surdos realizadas em turmas bilíngues inclusivas de alunos surdos de escolas-polo dos municípios pesquisados e destacar elementos que favorecem ou não a aprendizagem de Língua Portuguesa. A
base conceitual escolhida como referência da pesquisa pauta-se na teoria histórico-cultural, uma vez que, por meio dela, compreendem-se as relações que envolvem o desenvolvimento da aprendizagem humana (VYGOTSKY, [1929]1989; [1931]1939; [1924]1939; [1929]2000; 2010; 2012).Também se aproxima de autores que seguem a visão sociointeracionista de ensino de segunda língua (CASTRO; SANTOS, 2018; KELMAN, 2005, 2010, 2011, 2015, 2019; KELMAN; AMORIM; MONTEIRO, 2011; KELMAN; BRANCO, 2003, 2005; KELMAN; BRITO, 2018; LACERDA, 2014; LEBEDEFF, 2017; NAVEGANTES; KELMAN; IVENICKI, 2016; NEVES; QUADROS, 2018; QUADROS, 2019; dentre outros). A realização desta investigação baseia-se em uma metodologia de abordagem qualitativa (BAUER; GASKELL, 2003) na matriz histórico-cultural com viés multicultural, do tipo estudo de caso (GIL, 2008). A análise dos dados foi realizada
na perspectiva microgenética. Observamos que as escolas pesquisadas não possuem uma metodologia específica para o ensino de Língua Portuguesa para surdos como segunda língua. Porém, a forma como as professoras, as Tradutoras Intérpretes de Língua de Sinais e Língua Portuguesa (TILSPs) e os alunos surdos e ouvintes medeiam o conhecimento da Língua Portuguesa, utilizando artefatos da metacognição ou da comunicação inter/multimodal (KELMAN, 2015), faz a diferença positivamente no
ensino e na aprendizagem dos alunos surdos. A Libras é a língua mais indicada para esta mediação. Enfim, consideramos que a qualidade da mediação semiótica utilizada pelos professores, TILSPs e alunos no processo de ensino-aprendizagem dos surdos traz resultados positivos sobre a aprendizagem em Língua Portuguesa e sobre seu próprio desenvolvimento. As professoras, as TILSPs e os alunos ouvintes e surdos agem como mediadores e estimuladores da aprendizagem e, no ambiente da sala de aula, prezam a construção coletiva do conhecimento e valorizam o saber de todos.